Charge e Foto:Júlio, por Paulo Paiva (Pepê) e Júlio (2010)
Júlio de Andrade Filho é um dos mais criativos roteiristas de histórias Disney do Brasil. Sendo assim, ninguém melhor que ele mesmo para contar a história de sua vida, exercendo sua característica veia cômica. Segue abaixo sua autobiografia, escrita especialmente para o site EsquiloScans.
"No princípio, Deus criou os céus, a terra e o Júlio..."
Minha despretensiosa autobiografia começa assim, modestamente, e segue adiante, contando ao mesmo tempo a história da criação do planeta e de seus habitantes. Como poderia ficar extensa demais para este espaço, resolvi cortar alguns trechos - que somaram 567.989.900 páginas - e manter apenas alguns dados.
Nasci há 10 mil anos... ops...quase isso. Nasci em 1953, num 13 de fevereiro que por acaso era sábado de Carnaval (talvez por isso goste tanto de folia) e diz a lenda que naquele dia houve uma invasão de sapos na cidadezinha de Birigui, interior de São Paulo. Não sei até hoje o que pode significar isso, mas minhas pesquisas continuam...
Com cerca de 6 anos, já na capital, fui alfabetizado por minha mãe com a revista "O Pato Donald" e foi nesse momento que minha paixão por desenho e por quadrinhos (e por Disney) despertou. Meu primeiro desenho, numa lousa verde que tínhamos, foi um elefante fazendo cocô em cima do domador. Também ainda não descobri o significado subreptício dessa imagem...
Depois de fazer o tiro-de-guerra em Botucatu enquanto cursava Ciências Biológicas (escolha que acrescenta mais um mistério em minha vida), voltei a São Paulo e fui trabalhar no Detran como cartógrafo. Bem, foi esse o único emprego que achei que mais se aproximava ao que eu queria fazer: desenhar. Tá certo que desenhar mapas não tinha nada a ver com desenhar os patos, e sem dúvida minha carreira foi muita curta, especialmente depois de fazer uma grande lambança (mas isso é outra história).
Meu pai conhecia a irmã do Iga, que me mandou procurá-lo na Abril porque ele fazia "aquelas revistinhas". Lá fui eu e, depois de muitas aventuras, emplaquei meu primeiro roteiro, "As Asas de Ícaro", do Mickey e Mancha Negra. Fiquei escrevendo roteiros durante alguns anos como free-lancer, já que meus desenhos Disney eram muito ruins comparados aos de grandes mestres como Herrero.
Em 1973, a Abril montou uma Escolinha Disney, destinada a desenvolver novos talentos, e fui contratado então como argumentista-trainée, recebendo orientações de mestres como Jorge Kato e Primaggio. Passei então a escrever roteiros de forma mais coordenada, aprendendo todas as técnicas e tendo acesso a materiais que sempre sonhara: quadrinhos Disney do mundo todo, filmes e desenhos da Disney, livros.
Foi lá que conheci gente como Saidenberg, Maduar, Fukumoto, Moacir Rodrigues, Zalla... e descobri quem eram Barks, Murry, Strobl e tantos outros. Em 1979, uma de minhas histórias ("O Perito em Confusão", estrelando Prof. Pardal, com desenhos de Napoleão Figueiredo) ganhou o Prêmio Abril daquele ano como melhor história publicada, e meu prêmio foi... O sonho dos sonhos: um estágio em Burbank!
Fiquei na Califórnia um mês, visitando cada cantinho dos Studios Disney, vendo todos os filmes que eu não tinha visto até então, visitando a Disneyland em Anaheim (foi a 1ª visita, nos anos subsequentes voltei lá mais 5 vezes, depois 17 vezes em Orlando e 4 em Paris... nem sou fã, certo?) e realizando meu sonho de infância.
Nos anos seguintes, continuei escrevendo bastante para Disney e para outras revistas da Abril, como Pererê, Mônica, Faísca e Fumaça, Pantera Cor-de-Rosa, Sacarrolha, Satanésio e muitas outras. No início da década de 1980, recebi a incumbência de chefiar a Redação Disney e daí para frente, depois de uma passagem de 5 anos pela antiga Rio Gráfica (hoje Globo), continuei sempre desempenhando papéis de gerência e diretoria na Abril.
Nesses postos, lancei coleções e revistas como Série Ouro Disney (para a qual escrevi todos os roteiros), Quac!, Graphic Disney, Cine Disney, Anos de Ouro do Pato, do Zé Carioca, do Mickey, o jornalzinho A Patada, Roger Rabbit, Álbuns Disney, Margarida, Urtigão e várias outras, além de coleções de livros Disney e de outras propriedades.
Tive a oportunidade de visitar todas as editoras Disney internacionais, seja na Itália, na França, na Dinamarca e nos Estados Unidos, mas infelizmente não conheci Barks pessoalmente.
Depois que saí da Abril, passei a criar e produzir livros, revistas e sites customizados para empresas, seja infantis ou não. Minha ligação com quadrinhos continuou, porém, quando editei diversas publicações para a Pixel Mídia e a revista Star Wars, e criei e editei a revista de passatempos Coquetel Disney para a Ediouro.
Sou um cara muito feliz em diversos sentidos, mas principalmente por ter podido realizar meu sonho desde muito pequeno: fazer quadrinhos Disney e viver disso durante mais de duas décadas.
E continuo sonhando: ainda vou voltar à Disney World, para minha 18ª visita..."
E nós, os seus fãs, também continuamos sonhando... que Júlio volte a produzir excelentes roteiros com os personagens Disney.
Texto: Julio Andrade (Introdução e fecho Cesar Brito)
Roteirista e Editor