Júlio Andrade foi um do mais prolíficos roteiristas das histórias Disney produzidas no Brasil. Sua produção ultrapassou a marca de 300 roteiros escritos em cerca de duas décadas de atividade, superado em quantidade somente pelo Mestre Ivan Saidenberg.
Sua média foi de aproximadamente 15 roteiros por ano, em outras palavras, mais de um por mês. E isso, acumulando com suas outras funções dentro da Editora Abril.
Júlio abordou praticamente todos os personagens Disney e teve suas histórias desenhadas por quase todos - senão mesmo, todos os Mestres Disney nacionais.
Vejamos alguns exemplos:
"O Banho de Chuveiro" (Revista Tio Patinhas, no. 95, de 1973); "O Rapto do Lobão" (Revista Almanaque Disney, no. 25, de 1973); "O Atalho" (Revista Almanaque Disney, no. 42, de 1974); "Ao Sabor do Destino" (Revista Almanaque Disney, no. 52, de 1975). Para iniciar - acima - quatro exemplos de histórias estreladas por personagens menos destacados da grande Galeria Disney, escritas por Júlio Andrade (que enquanto leitor e fã, os apreciava muito) e desenhadas, respectivamente, pelos Mestres: Sérgio Lima na história com Tico e Teco, Carlos Edgard Herrero na história com Lobão e Lobinho, Rodolfo Zalla na história com o Zorro. Sobre esta história, nas palavras do próprio Júlio: "até o Zalla desenhou material meu, quando faltavam histórias do Zorro e ousei escrever algumas!" Muito bem escritas, por sinal. E finalmente Euclides Miyaura (o Chin) na história com os Irmãos Metralha.
"No Mar dos Negócios" (Revista Pato Donald, no. 1.218, de 1975). Em seguida, uma história com o Pato Donald, mostrando sua habitual característica de trapalhão, numa história desenhada pelo Mestre Primaggio Mantovi. Neste caso é interessante observar uma certa semelhança com a história de autoria de Carl Barks "O Príncipe das Minhocas" (revista Pato Donald, No. 638, de 1964 e revista O Melhor da Disney, No. 35, de 2008). Saudável influência do Grande Mestre Barks exercida, tanto no roteiro, como no desenho. Comparem o barco de Donald.
"A Epidemia de Super-Heróis" (Revista Zé Carioca, no. 1.265, de 1976). Mas é quando ele exercita sua veia humorística - bem brasileira - que Júlio mais se destaca, como no roteiro acima, de uma história estrelada pelo Super Pateta e desenhada pelo Mestre Moacir Rodrigues Soares.
"O Poder do Boato" (Revista Tio Patinhas, no. 133, de 1976). No próximo exemplo, mais um roteiro cômico estrelado por Peninha - em sua identidade secreta de Morcego Vermelho - numa história desenhada pelo Mestre Irineu Soares Rodrigues.
Peninha é um dos personagens prediletos de Júlio Andrade, segundo informações privilegiadas obtidas junto à seus colegas de trabalho.
"Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" (Revista Zé Carioca, no. 1.443, de 1979).
Em se tratando de roteiros cômicos, nada melhor que escrever uma história estrelada pelo Pateta, como no exemplo acima, com desenho do Mestre Roberto Fukue.
Realmente, Júlio transita com desenvoltura entre todos os personagens Disney, mantendo no entanto, suas características originais, diferentemente do que se vê hoje em dia, principalmente no material oriundo da Europa.
Isso ocorre, sem dúvida, porque ele, antes de ser profissional da área, já era um fã ardoroso. Sorte nossa!
"Demonstração" (Revista Zé Carioca, no. 1.159, de 1974); "O Goleiro" (Revista Zé Carioca, no. 1.181, de 1974). Dois exemplos de histórias tipo "one page", ou como o próprio Júlio as classifica: "piadinhas". Escritas por ele, ainda na época em que estava na "Escolinha da Arte Disney", e desenhadas pelo grande Mestre Disney Nacional Jorge Kato. Impossível não citá-las aqui, pois trata-se de uma parceria histórica: Kato & Júlio.
"As Asas de Ícaro" (Revista Mickey, no. 293, de 1977). Apresenta-se aqui a primeira história escrita por Júlio Andrade e efetivamente comprada pela Editora Abril - iniciando assim, sua carreira de roteirista - no início dos anos 1970. Foi a história principal de uma edição da revista Mickey, gerando até uma capa.
Como pode-se observar, ela só foi publicada alguns anos depois (1977) com desenho do Mestre Napoleão Figueiredo, aparentemente, um dos seus parceiros mais constantes.
"Aspirações da Vida" (Revista Zé Carioca, no. 1.053, de 1972). Mas a primeira história realmente publicada (embora não a primeira comprada), foi a do exemplo acima, com desenho do excelente Mestre Renato Vinicius Canini. Engraçadíssimo roteiro, estrelado pelo brasileiríssimo Zé Carioca, que - temos certeza - empata com Peninha, se é que não vence, na preferência de Júlio Andrade.
"O Perito em Confusão" (Revista Tio Patinhas, no. 125, de 1975).E, finalmente, a história que recebeu o "Prêmio Abril de 1979", com desenho do Mestre Napoleão Figueiredo. Trata-se de um engraçado roteiro com o Prof. Pardal e o Gilberto. Conforme consta na biografia de Júlio Andrade, esta história rendeu para ele - como prêmio - uma estadia de um mês na Califórnia (EUA) com direito a estágio em Burbank, visita a "cada cantinho dos Studios Disney" e visita a Disneyland em Anaheim (o primeiro parque e, portanto, o original).
Para nós, fãs, ela - a história - rendeu momentos inesquecíveis de diversão, assim como todas as outras roteirizadas por esse grande Mestre Disney que é Júlio Andrade... e que pode também ser considerado "nosso colega", pois também é um fã Disney.
Longa vida ao Mestre Júlio!
Texto e Pesquisa: Cesar Brito
Colecionador e Gibólogo