No comecinho não havia supers...
Só havia história cômica, policial, espionagem, épico medieval, viking, bangue-bangue ... com uma particularidade ... tudo em seriado com duas páginas por edição.
A coisa começou pelo New Fun em fevereiro de 1935, que se metamorfoseou em More Fun Comics mais adiante.
Depois surgiu a New Comics que passou a New Adventure Comics e, posteriormente, a Adventure Comics e, finalmente, surgiu a Detective Comics.
Essa era a situação em maio de 1938, um mês antes do azulão da capa aparecer pulando, e não voando, por aí ...
No meio tempo as histórias foram ficando maiores conforme a paginação ia aumentando. As vendas iam subindo pouco a pouco, enquanto os supers não vinham ...
Das três revistas principais que havia até maio de 1938, surgiu a Action Comics com a primeira aparição do Super-Homem quando ele ainda não era o semideus que movia planetas como bolas de gude, mas, sim, um rapaz com pele dura e poderes proporcionais à diferença de gravidade entre a Terra e seu planeta de origem, Krypton. Ou seja, pulava, não voava ... A atitude do rapaz era outra também, mais direta. Kryptonite era coisa que não se via por aí ...
Com o sucesso do Super, começaram a surgir outros heróis em 1939, como o Sandman, cara que andava por aí fazendo os outros dormir com arma de gás
e o Batman, ainda sem aquela mancha colorida e que distraía dos objetivos do personagem em minha opinião (sim, estou falando do Robin). O primeiro Batman ia direto no ponto, ou seja, na vingança mesmo, usando todos os métodos para que ela acontecesse. Suas histórias bordejavam o terror, frequentemente. Aliás, o personagem decolou quando retornaram a essa visão nos anos ‘70.
Em 1940 vieram o Flash e o Hawkman, o Espectro (espírito da vingança, com poderes quase ilimitados) e a primeira de quadrinhos com personagens caricaturais (a Mutt and Jeff). Também veio o primeiro título onde se reuniam estórias de vários heróis (All-Star Comics) que deu, mais tarde, origem à primeira Liga da Justiça, a Sociedade da Justiça da América. Também veio o Lanterna Verde, no fim do ano.
Os supers estavam ganhando os dólares e os títulos apareciam como cogumelos. É o começo da idade de Ouro dos quadrinhos. Mais supers viriam por aí até 1942.
Em 1940 também veio um tal de ... Robin ... Não se pode acertar sempre e, nesses tempos, a pedofilia não era um tema quente como hoje em dia ... o que se vai fazer ... era para atrair mais leitores jovens amaciando o Batman um pouco ... hereges ... iconoclastas ...
No fim de 1942 todos os títulos estavam estabilizados dentro do gênero super. A partir daqui será só manter e, depois, com o fim da Idade de Ouro, reduzir.
As últimas chegadas são, de certa forma, espantosa:
Temos Wonder Woman,
a rainha do bondage, em que (acreditem), não há nem UMA aventura em que não haja mulher acorrentada, amarrada, etc., etc. ...
Outro motivo fixo é que a WW, apesar de tudo isso, sai sempre vencendo e provando sua superioridade sobre o 'Mundo dos Homens'. Muito avançado para a época mesmo. É no que dá quando pedem a psiquiatra para escrever gibi.
Mesmo assim, espanta como os editores deixaram a coisa passar até o passamento do criador da personagem. Dá para pensar que, nesses tempos, o pessoal era menos encucado com certas coisas ...
A outra grande novidade em 1942 é a chegada da dupla que criou o Capitão América para a Marvel (Timely nessa altura): Joe Simon e o enorme Jack Kirby!!!
Reformularam o Sandman, criaram o Boy Commandos e o Guardian and the Newsboy Legion. Estavam com tudo lá na DC.
Outro aspecto desses tempos era a contínua presença da guerra nos argumentos das histórias. Hitler e Hirohito eram ossos duros de roer. Daí os uniformes passarem a ser concebidos com elementos da bandeira americana, as estrelas, as listas e as cores Red, White and Blue. Basta dar uma olhada nos uniformes da Wonder Woman e do Star-Spangled Kid, por exemplo ...
O espírito lutador estava na ordem do dia e o patriotismo também ...
No entanto, esse ouro todo não iria durar muito tempo. Com o pós-guerra, a economia em recuperação, os veteranos voltando da Europa e Pacífico, os níveis de descontentamento e delinquência subindo, a coisa iria ficar preta pro lado dos gibis logo, logo ...
No biênio ‘43-‘44, a 2ª Guerra Mundial iria acabar, mas isso ainda não se refletiria nos comics de imediato. Os supers continuavam reis de tudo em seu redor, vejamos:
O Super estava cada vez mais super, já voava, já super-espirrava, super-soprava, super-cozinhava com os olhos, etc., etc.
Também já tinha seus vilões de marca: o eterno Luthor, o Galhofeiro o Homem dos Brinquedos e aquele duende da 5ª dimensão com nome impronunciável. O grande mas subapreciado artista Wayne Boring, que haveria de carregar o Super nas costas até o meio dos anos ’50, já ia aparecendo aqui e ali.
No canto do Morcego, a galeria de vilões era soberba, talvez para compensar o amaciamento da personagem. Pinguim, Mulher Gato, Coringa, Hugo Strange, Duas Caras, ufa ...
A caracterização desses caras era ótima e com o Bob Kane aliviando nos desenhos e entregando cada vez mais a arte ao seu estúdio, o grande Dick Sprang, com seu estilo Dick Tracy (Chester Gold), começava a dar as caras com painéis sensacionais.
A Mulher-Maravilha continuava ocupada com suas cordas, correntes, algemas, etc., e estranhamente não tinha vilões de marca. Ou, nesse caso, deveria dizer vilãs, porque 90% eram mulheres. Bom, havia a Cheetah e uma baronesa alemã, Paula qualquer coisa.
Os outros supers Flash, Lanterna Verde, Gavião Negro, Espectro, Canário Negro, Arqueiro Verde, Aquaman, Átomo, etc., estavam vivendo confortavelmente em suas revistas próprias ou com estórias de suporte no mix de revistas como More Fun, Adventure, Spangled, Action Comics, Detective Comics, etc.
No entanto, o futuro já espreitava no horizonte, pois em 1944 a DC decide começar a explorar o território de outra editora, a Western/Dell, e começar produzindo os chamados 'animais falantes', nome de código para 'Disney e Pernalonga clones'.
Afinal, porque o Walt e a Western deveriam ter toda a diversão (e lucro)?
Assim surgiu a Funny Stuff, a primeira de uma maré cheia que iria inundar as bancas no fim da década.
Finalmente, no caricatural, surgiram a Buzzy (talvez o primeiro Archie que apareceu por aí) para adolescentes e o All-Funny Comics, na linha do já existente Mutt and Jeff.
Estamos falando de 1945-1946, onde uma economia sofrendo as agruras do pós-Guerra Mundial, vai deixando cada vez menos espaço no bolso dos contribuintes para a compra de comics.
Também não se pode deixar de pensar que, talvez, alguma saturação já se estivesse instalando nos leitores
Por isso mesmo, inicia-se, ainda que ao de leve por enquanto, a queda do gênero super-herói nas bancas da DC. No entanto, os sinais ainda são pequenos e praticamente insignificantes. A grande queda veio em 1948-1952, devido a um fator determinante, do qual falaremos mais adiante.
Por enquanto, o panorama ainda é dominado pelos supers, embora o estilo Disney começasse passo a passo a entrar pelo super-reino. Afinal comic era coisa de criança, certo?
Assim, em 1945, o primeiro super-titulo a cair foi o Leading Comics, que apresentava aventuras conjuntas dos co-adjuvantes das outras revistas mix: Arqueiro Verde, Cavaleiro Andante, Vigilante, Sideral, etc., etc., sob o título de “Sete Soldados da Vitória” passou, a partir do 15, a publicar mais “funny animals” ...
Também em 1945 a DC pensou, e bem, na pergunta filosófica:
O que é melhor que aventura do Super-Homem?
Mais aventura do Super, claro!
Mas, e se quisermos apanhar a grana dos pais através das crianças, com o Super?
Bom, ele chegou à Terra quando era bebê, portanto que tal um Superboy?
E assim, em 1945 chegou ao More Fun Comics 101
a primeira aventura do “Super quando jovem”!!! Grande sucesso, claro ... Mas que não chegou para salvar o gibi. Em 1946, a partir do 108, o More Fun Comics passou pro lado Disney da força e o Superboy ficou salvando o Adventure Comics. E não é que salvou mesmo? ...
O lado Disney da força ganhou mais dois títulos em 1946: Funny Folks and Animal Antics.
Também uma tentativa de magazine biográfico e cientifico: Real Fact Comics.
Nota final para a introdução de um novo gênero em 1946: a quadrinização de shows da rádio e televisão e, mais tarde, de filmes de Hollywood e de aventuras fictícias de alguns dos seus atores, principalmente de comédia, com mais sucesso.
Digam olá ao “A Date With Judy”.
A DC estava começando a expandir rumo a novos horizontes, atrás da grana onde ela pudesse estar ...
E as margens do super-reino estavam começando a se esboroar. Lenta, mas seguramente ...
Como já tinha sido referido, o espírito heróico da 2ª Guerra Mundial estava se diluindo e a economia estava se recompondo. Isso não foi nada bom para os supers, porque as vendas dos seus gibis encolheram, e encolheram e encolheram ...
Ou seja, passado o turbilhão, o fato é que o mercado estava saturado de supers e, tal como nas marés, depois de uma maré cheia tem de vir uma maré vazia. Só não se esperava que fosse assim tão vazia, como teremos oportunidade de verificar quando entrarmos na década de ‘50 ...
De resto, o tema da moda era a bomba atômica. Se os russos já tinham, se não tinham, etc.,etc. A guerra fria rondava no horizonte, As caças às bruxas (vulgo “Onde está o Wally”, versão espião do Kremlin), mais conhecido como “se não pensas como eu, então és espião comunista”, começavam a entrar no quotidiano americano. Maior problema é que não ficaram só nos espiões ...
Mas isso é assunto pros anos ‘50.
A palavra do dia era diversificação:
Assim, o Comic Cavalcade passou a clone Disney em 1948. Adeus Green Lantern, Flash e Wonder Woman ...
Apareceu mais um gênero: o Policial. Olá Gang Busters
em 1947 e District Attorney em 1948.
Para salvar o Star-Spangled Comics em 1947, iniciaram uma série do Robin (sim, o moleque do Morcegão) a solo. Ainda aguentou uns anos ...
O Kirby voltou pro titio Stan Lee, lá na Timely/Marvel, mas haveria de voltar nos anos ‘50.
Estréia do gênero Mocinho, Bandido, Índio, etc, em 1948, de três formas diferentes:
- A partir de mocinhos de Hollywood, olá Dale Evans (parceira de um tal de Roy Rogers (cowboy cantor)).
- Conversão do All-American Comics (adeus mix do Lanterna Verde, Átomo, etc.) a estilo Western.
- Gibi novo: Western Comics.
No ramo de adolescente caricatural vieram a Scribbly e o Binky em 1948.
Finalmente, o cancelamento da caricatural All-Funny Comics em 1948, e, de maior importância, ainda em 1947, a primeira revista de todas, a More Fun Comics, foi cancelada no 127.
O All-Flash Comics também foi cancelado em 47. Adeus Flash ...
O super-reino estava desabando e só iria estabilizar em 1953, com três sobreviventes. Apenas três durante quase toda a década de ‘50 ...
Enquanto isso o Super era mais super que bomba atômica, o Morcegão estava cada vez menos dark e concentrando em trabalho de detetive, leia-se resolvendo enigmas, do mais absurdo que possam imaginar, mas ainda mantendo o interesse abusando de aparições continuadas do Joker.
A Amazona Maravilha estava perdendo a faceta S&M rapidamente, depois do passamento do seu criador em 1947. E, sinceramente, a qualidade das histórias não melhorou com isso ...
Valha-nos a arte fantástica de caras como o Dick Sprang no Batman e, vá lá, o Wayne Boring no Super. A travessia do deserto dos ‘50 está já aí batendo na porta.
Bem-vindos à Atomic Age.
1949 foi uma autêntica revolução. Mais cancelamentos de super-revistas e mais lançamentos de todo gênero não-super. Vejamos então:
Você quer saber as últimas fofocas de Hollywood? Claro que quer!
Então aí vai a Miss Beverly Hills procê!
E, pra você, que beija foto autografada do Alan Ladd, aí vão as Adventures of Alan Ladd!
Do lado da TV, não esquecemos as novelas cômicas! Leva aí o Ozzie and Harriet!
Cê acha que sabe como os vaqueiros e as filhas dos rancheiros se entendem? Confira no Romance Trail!
Falando em Oeste, confira as aventuras do mais novo mocinho cantor de Hollywood: Jimmy Wakely!
E vocês, minhas caras, acham que já têm muito desgosto na vida? Tolice! Confiram em Girl's Love Stories e Secret Hearts! Garantido que faz até pedra da calçada chorar! Página de consultório sentimental incluída! A grande entrada do gênero Romance na DC!
Finalmente, você gostou tanto que não resistimos a lhe oferecer ainda mais clone-Disney!! Pega aí o Peter Porkchops!!
Ufa!!!
A DC tava mesmo disparando em todas as direções a essa altura. E como contracorrente:
O Boy Commandos sem o Kirby já não dava pra aguentar mais, mesmo tendo sido o Kirby substituido pelo ... Curt Swan !!!!
Pra quem não sabe, o Curt Swan foi o Barks do Super-Homem. Com ele, o Super voava e nós acreditávamos. Definiu a imagem do Super do fim dos ‘50 até meio dos ‘80. É, sem dúvida, o artista definitivo do Superman ...
O Green Lantern perdeu seu ultimo gibi. Adeus Lanterna Verde ...
Idem pro Flash. Adeus homem mais rápido do Mundo ...
Adeus Idade do Ouro ...
No entanto, nem tudo era mau pros supers. O Superboy na Adventure Comics estava com tanto sucesso que só podia dar em ... mais um gibi!!!! Olá Superboy!!!!
Sem dúvida que o Super continuava invulnerável apesar da kryptonita ser inventada no fim desse ano. Onde o Super tocava, virava ouro. Mais exemplos se seguirão ...
Bom, mas ainda falta 1950:
O Miss Beverly Hills, o Romance Trail e o Ozzie and Harriet foram tiros longe do alvo e foram rapidamente cancelados.
Foram lançados o Melody Lane of Broadway (já que não pega com cinema talvez pegue com teatro) e um gibi de quadrinização de filmes, Feature Films. Foram cancelados ainda no mesmo ano ...
Começou o seriado Natalício do Rudolph, a rena do Pai Natal. Saía apenas em Dezembro e durou por uma dezena de anos.
E entre projetos falhados, a DC achou a mina de ouro. O gênero romance tava saindo mais que sorvete nos trópicos!! Aí vai o Girl's Romances!! E não seria o último, não é?
No Western de Pioneiros, uma personagem que estava chamando a atenção no Star-Spangles Stories ganhou seu gibi próprio: Tomahawk.
Nas aventuras de personagens de Hollywood, a DC finalmente acertou e teve um êxito com Adventures of Bob Hope. Ator de comedia é quase sempre êxito garantido ...
E, finalmente, no capitulo dos lançamentos, a primeira aparição de um gênero importantíssimo que estava ficando na moda:
As estórias insólitas, que podiam ser de suspense, de terror, de mistério, e de ...
Ficção Científica!!!
A Ficção Científica estava começando como gênero literário por esses tempos, e estava entrando nos gostos populares. E iria ter um papel importante na base dos novos super-heróis da era de 1960.
Portanto aí vai o primeiro gibi de estórias insólitas: Danger Trail.
E como a DC fazia sempre tudo por dois ou três, aí vai o muito mais importante, Strange Adventures.
Como se viu, remodelação acelerada na DC, sempre procurando novos gêneros de gibis num mercado cuja razão de ser (os supers) tinha se esgotado quase que sem aviso prévio.
Mas ainda faltava um gênero importante fazer sua aparição. Depois do Disney style e do romance vem aí, as histórias de Guerra!!!
Apenas quatro anos após a realidade, começaram os gibis baseados nessa mesma realidade. E foi um êxito ...
No mundo real americano, intensificavam-se os problemas de delinquência juvenil nas escolas e nas ruas, com o surgimento das primeiras gangues juvenis operando em territórios controlados por seus membros. Houve filme, história de gibi, etc., etc., sobre esse assunto. Uma das justificativas que inventaram para isso (além da real, a condição ainda frágil da economia, das marcas psicológicas da guerra deixadas em veteranos armados e desempregados e ainda dos órfãos de guerra revoltados e lançados na vida de rua também por falta de trabalho) foi o rock'n'roll. A outra, foram os ... gibis ... sim, ... os ... gibis ...
Esse movimento, que chegou a ser incluso governamental, atingiu seu auge em 1954.
Nesse meio tempo, alguns nomes muito grandes da arte dos quadrinhos:
Al Plastino, Wayne Boring no Super;
Dick Sprang no Batman;
George Paap no Superboy e Green Arrow;
Jim Mooney no Robin;
Paul Norris no Aquaman e Johnny Quick;
Howard Sherman no Vigilante e Congo Bill;
Frank Frazetta no Shining Knight;
Alex Toth no Johnny Thunder;
Gil Kane no Rex, the Wonder Dog;
Lee Elias no Robotman e Pow-Wow Smith;
Harry G. Peter na Wonder Woman;
John Sikela e Curt Swan no Superboy, e
Curt Swan no Tommy Tomorrow e no Boy Commandos.
Apesar de tudo, ainda havia alguns super-oásis no deserto da DC ...
Infelizmente, ainda vai ficar pior antes da Idade de Prata em 1956 ...
Principio da década de ‘50. Rock'n'Roll. Chuck Berry. Little Richard. Cortina de Ferro, Guerra fria. 007. Ficção Científica. Robert Heinlein. Isaac Asimov. Arthur C. Clarke ...
Mudanças culturais significativas despontando por todo canto. Novos gêneros musicais e literários no pedaço.
E nos gibis?
Bem, pelo contrário, estava tudo quieto e esperando o resultado da ofensiva do Senado americano, que proclamava que os gibis eram impróprios para consumo de seu publico alvo: a criançada.
Pior que isso: a delinquência juvenil nas ruas da América seria em grande parte da responsabilidade dos gibis ...
Não admira, pois, que os comics tendessem a ficar mais e mais desinteressantes com o desenrolar de toda essa conjuntura.
Era necessário convencer os pais que os gibis eram tão inocentes como o estereótipo das próprias crianças a quem se destinavam ...
Para já, temos o bater no fundo dos supers quando no fim de 1951, a Wonder Woman sai do Sensation Comics que viraria para o sobrenatural e seria cancelado em 1953.
Também o resistente All-Star Comics, com a Justice Society, passaria a All-Star Western no numero 58.
Quem queria super a essa altura, tinha:
Superman;
Action Comics;
Batman;
Detective Comics;
Wonder Woman;
Superboy;
Adventure Comics, e
World's Finest Comics.
Quanto maior a altura, maior a queda, não é?
De assinalar que cinco desses títulos tem a participação de alguma forma do Super-Homem, imperador incontestado dos super-heróis desse tempo.
Bem, não bem incontestado. Havia um super-clone que chegou a vender mais que o original, eh eh ... Abordaremos esse ponto mais tarde ...
Não admira que, nessa época de transição, a DC continuasse disparando em tudo que mexia:
O show da rádio Big Town, sobre o insólito que pode acontecer todo dia na “cidade grande” foi levado para os quadrinhos.
Começou o insólito de SF (Science Fiction), Mystery in Space.
Mais uns cartoons para distrair as criancinhas: Flippity and Flop e Fox and the Crow. Esse último foi o que mais resistiu à prova do tempo.
Mais um Archie-clone: Here's Howie.
Um pouco de terror e mistério: House of Mystery.
Lembra da Lassie? Aquela cadelinha dos filmes e do seriado antigo na TV?
Pois bem, não conseguimos contratar seus direitos de imagem, mas inventamos as aventuras de outro canídeo:
Adventures of Rex the Wonder Dog
Mais terror com o Phantom Stranger. Esse personagem é bem interessante e voltaria após essa breve aparição (será cancelado em 1953).
Comédia direto de Hollywood: o Bob Hope estava resultando pelo que aí vem o Adventures of Dean Martin e Jerry Lewis, duo da comédia desses tempos.
E, claro, a importante introdução do gibi de Guerra:
Our Army at War (novinho em folha).
All-American Comics passa a All-American Men of War a partir do número 127 com renumeração a partir do 1.
Mesmo para o Star-Spangled Comics, que passa a Star-Spangled War Stories com o numero 131, com renumeração a partir do 1.
Nos cancelamentos temos:
Adventures of Alan Ladd ;
Jimmy Wakely, e
Dale Evans.
(A verdade é que tirando comediantes, nenhum desses quadrinhos de Hollywood foi durável).
O caricatural adolescente Scribbly.
E o pouco durável Danger Trail no genero de histórias insólitas.
Resumindo, a altura era de baixar a cabeça, passar despercebido e tentar o maior numero de gêneros possíveis. Algum haveria de funcionar. E funcionaram mesmo. Veremos adiante ...
Quanto aos supers, sua hora chegaria de novo na Idade de Prata.
Enquanto esperamos pelo Elvis começar a rebolar sua bunda, o biênio 1953-1954 apresenta algumas novidades a nível de consequências do descrédito dos gibis na sociedade americana.
Porque os gibis tiveram aquela explosão nos anos ‘40? Porque os soldados lá fora, na guerra, precisavam desesperadamente de diversão e de reafirmação dos valores pelos quais estavam lutando. O mesmo vale para o pessoal que trabalhava no esforço da guerra no continente americano ...
E no pós-guerra? Pois aí os comics voltaram ao seu estereotipo de “coisa de criança” ... E as tiragens diminuiram, claro.
Só que não ficou por aí. A delinquência juvenil foi diretamente relacionada com os comics em 1954, por comissões especiais do senado Americano. A caça às bruxas estava na moda nesses tempos ...
E agora, que fazer, se você for dono de editora de comics? Como aplacar o governo, o cidadão comum e ficar à tona d´água sem ter de encerrar seu negócio?
Pois, talvez, criar uma comissão de representantes das editoras e elaborar um código de conduta para assegurar a todos que seus comics, produzidos de acordo com normas aprovadas pelo comitê, são, usando o termo americano ... "clean".
Traduzindo em linguagem real, fica: “Antes que o governo nos atire pra fora do negócio judicialmente, vamos nos unir e auto-censurar a nós próprios”!!!!!
Sim! Bem vindos à era da censura!!!
E essa censura chegava a determinar matérias importantíssimas como:
- Comprimento das saias das personagens femininas;
- Representação quase assexuada das mesmas personagens;
- Linguagem apropriada e correta, e
- Inclinação política (de onde acha que o Truth, Justice American Way veio?).
Não vou continuar porque não há saco pra tanta imbecilidade. A reter apenas que as histórias ficaram mais acriançadas e imbecis (basta ver o Super e o Morcegão) e nem sequer havia nível de fantasia, ainda, que salvasse o produto final.
Felizmente a Ciência, cujo desenvolvimento agora avançava a passos de gigante, iria fornecer uma saída pra essa situação trazendo consigo a Idade de Prata dos comics.
Isso e um Senhor com S maiúsculo chamado Stan Lee, que agarrou no Comics Code e o jogou pela janela no final dos 60 ...
Enfim, voltemos aos mid-fifties ...
Pois os comics começaram a incluir um selo na capa “Aproved by the Comics Code”. Quem tivesse estava barra limpa com o governo.
E que tem tudo isso a ver conosco? Pois bem, com todo esse corte no consumo dos comics o inevitável aconteceu, várias editoras fecharam. Para onde passaram suas propriedades intelectuais? Pois para quem pagou mais. Algumas, portanto para a DC. E a primeira a passar foi o Hopalong Cassidy (mais um mocinho das telas) da Fawcett, em 1954, que continuou com sua numeração original, número 86.
Mas não era só o Cassidy que a DC queria. A DC já estava em litígio fazia anos por plágio do Super. Estamos falando do único super-herói que bateu as vendas do Super: Captain Marvel!!!
O Captain Marvel original (não o do titio Stan do final dos anos 60) foi criado em 1940 e arrasou as bancas. A DC vendo o seu Superman ultrapassado partiu pra ignorância. O processo judicial demorou anos a concluir. E no fim, levou à queda da Fawcett e à dispersão das suas propriedades pelas editoras sobreviventes.
Mas aí a DC pisou na bola. Em vez de publicar o Marvel, guardou na gaveta. Em finais de 60, o nome caiu no domínio publico. E aí ... o titio Stan (cuja editora se chamava ... Marvel) apanhou pra ele. Nunca perdoaram o Stan lá na DC até hoje, eh eh ...
Daí o Captain Marvel original ser conhecido nos nossos dias por ... Shazam!!
Em termos de lançamentos em 53-54 temos:
Mais desenho animado: Peter Panda.
Mais cartoon de adolescente: Harvey (só durou 7 números...).
Fim do Sensation Comics e do Phantom Stranger.
Vinda do Hopalong Cassidy da Fawcett.
Mais gibi de Guerra: Our Fighting Forces.
Uma das tiras com mais sucesso do Action Comics foi lançada a solo: Congo Bill.
Também começaram a personalizar os nomes das revistas de desenho animado:
Funny Stuff passou a Dodo and the Frog com o número 80.
Funny Folks passou a Nutsy Squirrel com o número 61.
Animal Antics passou a Raccoon Kids com o número 51.
Nunca subestimar o valor de uma marca personalizada em vez de um título genérico ...
Enquanto isso a Comics Cavalcade foi cancelada.
Também de interesse o fato de que a DC acordou para o fato de ter durante anos uma revista World's Finest Comics que apresentava histórias do Super e do Morcegão em separado, mas capas com os dois interagindo juntos. Depois de um ensaio com sucesso na revista do Super, a World's Finest Comics passou, com o número 71 a apresentar o Super e o Morcegão juntos na mesma história!!!!
Idéia genial da qual a DC tiraria muito proveito no futuro: o começo da dupla Superman - Batman. Histórico!!
Outra nota histórica menor: o que é melhor que aventura do Super? Tá tá, vocês sabem o resto. E dessa vez a honra coube ao ...
Superman's Pal Jimmy Olsen!!!!
Nessas histórias o Olsen sempre se metia em problemas e o Super aparecia sempre para salvar o dia e botar gozação no Olsen por ele não ter miríades de poderes para sair dessas enrascadas. E, obviamente, o Olsen agradecia de quatro ao super super por ele existir e consentir em ser seu "amigo". Pior que isso só o que ele fazia com a Lois Lane. Bem, foi um grande sucesso obviamente. Afinal a capa tem a palavra Super incluída ... Não percam grande arte do Curt Swan. Vale o preço do ingresso.
E é isso aí! Censura, Falências, Argumentos Imbecis. O legado dos mid-fifties.
No entanto, lá longe, uma tempestade distante produz um relâmpago ...
Esse relâmpago atinge e irradia uma prateleira de produtos químicos ...
Esses químicos irradiados ensopam um cientista forense de Central City ...
Algum tempo depois, uma mancha escarlate e amarela se aproxima a velocidade maior que a do Super-Homem ...
Os comics estavam mais por baixo que barriga de cobra no meio da década de 50. Censurados, estereotipados, etc., etc. ...
Portanto, em 1955, as águas continuavam paradas e quase só saía mosquito daquele pântano ...
Vejamos ...
Mais um título de “histórias misteriosas”, My Greatest Adventure' ...
Em seguida, um título de “histórias de herói do passado”, Brave and the Bold, cujas estrelas eram o Príncipe Viking, o Cavaleiro Silencioso e o Gladiador Dourado. Arte do Joe Kubert no Viking ...
Mais um de romance que a coisa tava saindo, Falling in Love ...
E já que o Tomahawk estava tendo muita saída, mais dois de pioneiros: Frontier Fighters, que foi logo cancelado em 1956, e Daniel Boone, com o mesmo destino do precedente ... De volta à prancheta de desenho pessoal, não é por aqui o caminho do sucesso ...
Para completar, revistinha de passatempo (sem sudoku obviamente, porque só durou até 56): It's Gametime ...
Fora isso, só o cancelamento do Disney clone Leading Comics e do recentemente lançado Congo Bill. Pelo visto o personagem do caçador branco em África não tinha atração suficiente para sustentar um titulo por si só. De volta ao Action Comics, Bill ...
A exceção: Ficção Científica em novo super-herói chegando com o Martian Manhunter (Ajax o Caçador Marciano) no Detective Comics 225. Primeiro sinal dos novos tempos que vinham chegando ...
Texto e Pesquisa: Paulo Marques (Lisboa)
Apoio técnico: Paulo Ricardo Abade Montenegro (Rio Grande do Sul)