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THE SILVER AGE – 1956 / 1970

E em 56?...

Bem, vamos ver então:

Os lançamentos:

Mais Mistério/Terror/Fantástico com Tales of the Unexpected e House of Secrets.

Mais TV com a quadrinização do show Jackie Gleason and the Honeymooners (durou 12 números até 1958)...

Mais Disney clone com os “Three Mouseketeers”. Com esse titulo nem sei como o titio Walt não processou...

Se alguém se lembra do Dennis the Menace, o Pimentinha, eis a resposta da DC: Sugar and Spike. Bem divertido e durável...

E finalmente...

Uma idéia absolutamente genial !!!!

Um gibi que procurava acabar de vez com o problema dos lançamentos de 4, 7, 8 números apenas !!!

Após tanto lançamento falho a DC procurou um meio de assegurar que quando lançava, ganhava !!!

E como fazer isso?

Pois bem, perguntando ao leitor o que ele queria ver numa revista. Mocinho, romance, explorador, super-herói, mistério, ciência, etc...!!

E como fazer essa pesquisa de mercado? Aí vem a idéia revolucionária: 

Pois através de uma revista em que seriam publicados 3 números dedicados a estórias e personagens que estavam sendo considerados para lançamento em gibi próprio. E a resposta dos leitores? Através de cartas para a editora: A seção de cartas!!!

Puro Gênio!!

Porque 3 números? Porque entre concepção da estória, publicação e retorno das cartas, se passavam exatamente 3 meses!!! 

E assim, essa revista de pesquisa de mercado se chamou: Showcase!!!

E foi exatamente por essa revistinha aí que em 1956 no número 4 por desígnio do Grande editor Julius Schwartz, veterano da Idade de Ouro, apareceu a primeira aventura do remodelado Flash, o homem mais rápido do mundo, e primeiro super-herói a retornar naquela que viria a ser denominada a Idade de Prata!!!! 

Seria o regresso em massa dos super-heróis dos anos 40, reformulados para os novos tempos de censura que se viviam.

E que regresso... que regresso, gente !!! 

O titio Julius viu que a única forma de contornar o raio do Comics code sem perder o interesse do leitor, seria associar o herói a um tema popular e considerado 'limpo'. E esse tema nos anos 50 só poderia ser a Ciência! As descobertas científicas e o novo género da Ficção Cientifica estavam arrasando a cultura cheia de mofo dos 50, logo, todo o herói teria de ter origem e poderes baseados estritamente em fato cientifico...

E o resto é história... 

Mas ainda havia mais surpresas eh eh...

Peguem o último número do Flash em 1949 e comparem com o Showcase #4...

Arte e argumento bem diferentes, né? Nenhuma relação, certo? 

Pois é o mesmo desenhista nos dois gibis!!!!!! 

Titio Julius deu carta branca pro Carmine Infantino e ele se reinventou artisticamente de uma forma absolutamente incrível...

Praticamente inventou um novo estilo de arte pros comics...

Tudo isso é maravilhoso, histórico e imperdivel!!!!

A janela foi aberta e agora era só deixar o vento ajudar a tirar o mofo de dentro da cabeça das pessoas rumo á Idade de Prata e aos fantásticos anos 60...

Aliás, a coisa repercutiu tanto que até o titio Kirby voltou pra DC em 1957...

Breve, um piloto aeronáutico estará prestes a receber um anel de cor verde de um alien membro de um corpo de policia espacial, ferido no cumprimento do dever... 

E o que temos nós para realçar no bienio 57-58?

Pois em 57, o 'efeito Disney' parece que já estava passando:

Assim temos o cancelamento do Dodo, Raccoon Kids, Nutty Squirrel.

E também o cancelamento do caricatural adolescente, vulgo Archie-clone, Buzzy.

Em termos de lançamentos temos a chegada das propriedades intelectuais da defunta editora Quality:

GI Combat (Guerra)

Heart Throbs (Romance)

Robin Hood (Aventuras Medievais, cancelado em 58)

E o excelente Blackhawk (Guerra mas com inflexões de ficção científica e mais tarde desvios super-heróicos durante os 60).

Lançamento mesmo da DC   temos o licenciamento do seriado cômico de TV Sgt, Bilko, que no ano seguinte haveria de dar origem ao gibi Pvt, Doberman, coadjuvante do mesmo seriado. Ambos os gibis morreriam em 1960...

58 trouxe a confirmação de que a DC não tinha competência pra fazer sombra ao Walt Disney, ao Walter Lantz (woody woodpecker) e à linha do Bugs Bunny da Warner Bros Studio com o cancelamento adicional do Peter Panda.

Outros cancelamentos do ano:

Policiais Big Town e Gangbusters.

Também a antiquissima antologia de piadas Mutt & Jeff foi cancelada com o número 135. O licenciamento passou pra Dell/Gold key.

O licenciamento do seriado de TV Jackie Gleason também foi suspenso nesse ano.

Nos lançamentos não-super, foi a vez do celebre detetive chinês Charlie Chan que seria cancelado em 59 depois de 6 edições... 

E os supers?

Esses estavam sendo relançados na Showcase sob os auspicios do editor de linha Julius Schwartz que foi o 'titio Stan da DC', reformulando todos os supers dos anos 40 e lançando as bases do super-herói moderno.

E o que era um editor de linha?

Começou por ser o cara que fazia com que as datas de publicação eram cumpridas por autores, desenhistas e distribuidores. Pouco mais que controlador de tráfego...

Depois passou a revisor e corretor de erros nos textos e nos quadrinhos...

Depois passou a controlar que argumentos seriam passiveis de publicação e quais seriam re-enviados para alterações ou simplesmente recusados.

Depois passou a ter o controle absoluto da direção dos argumentos e arte que deveriam aparecer no 'seu' livro, além da contratação e demissão de argumentistas, artistas, coloristas, etc.

E chegaremos a um tempo em que o editor mandava no gibi completamente antagonizando todos os elementos criativos que nele trabalham...

Isso aí em cima é a evolução do cargo de editor de linha dos 40 aos 90 e anos seguintes...

Na época dessa cronica, o editor estava no segundo parágrafo e já tinha a supervisão e ultima palavra sobre o que ia ser publicado. Nessa época artista e argumentista eram comparáveis a qualquer funcionário contratado. Eram pagos por página e não tinham qualquer direitos sobre o material que produziam. 

Vai daí que a qualidade do editor, além da do artista e do argumentista era primordial para a qualidade do gibi final. Aliás, nessa época um criativo fazia aquilo que lhe mandavam os editores, hoje num gibi, amanhã noutro completamente diferente. O editor era peça fundamental, era quem falava com a administração diretamente.

Ora o titio Julius era dos que dava carta branca aos seus criativos e envolvia artistas e argumentistas num clima de colaboração que não era usual nesses tempos. Um inovador portanto...

Como consequência inovou todos os supers dos 40 com sucesso absoluto, como veremos nas próximas semanas... Esse jovem é o verdadeiro ´pai´do super-herói moderno.

Editor de outra linha de pensamento era o Mort Weisinger que tinha a seu cargo tudo quanto tivesse Super no titulo. Esse aí era do tipo controlador e fã da micro-gerência. Mas tinha um ou dois truques que fizeram com que o Super continuasse a ser um sucesso inquestionável durante os anos 60.

E o grande truque do Mort era perguntar ao publico alvo que estórias do Super ele queria ler nos Super-gibis. E já que o público alvo eram (ainda) as crianças ele se sentava na rua com  elas e perguntava o que elas gostariam de ver no Super!!!!

E não é que a coisa resultou mesmo? Mais uma vitória da pesquisa de mercado!

As inovações começaram a surgir:  Fora com o Boring, dentro com o genial Swan na arte. Novos vilões como Brainiac e Metallo. Luthor completamente reformulado. Estórias imaginárias (como se o gibi fosse real) onde se podia até matar o Super!! Puro Gênio!!

E do lado do Morcegão? Bem aí o editor era o Jack Schiff e ele não sabia muito bem o que fazer com ele...

Na falta de idéias tentou colar o Batman com o Superman...

E o que obtivemos desse cruzamento?

Pois o Morcegão ganhou o seu duende da 5ª dimensão, passou a defrontar alienigenas  e a voltar no tempo tal qual o Super. Só que o que resulta no Super com seus super-super-poderes não resulta com um herói SEM QUALQUER PODER!!!!! Batman é pra infundir terror nos criminosos, pô!!!! Não pra caçar alienigenas e robôs

Daí que como veremos futuramente foi o titio Julius que teve de ir salvar o Morcegão em 64 retornando-o pelo menos senão a suas raízes ao seu papel de detetive e caçador de criminosos...

No entretanto a sobrevivente Mulher-Maravilha continuava paulatinamente com suas aventuras que tinham seu publico fiel e sem qualquer caracteristica que as distinguisse das de qualquer outro super tirando o fato de o protagonista ser uma... mulher.

Voltando ao lado Julius da força...

Sabe quem voltou à DC em 57 ?

O titio Jack Kirby !!

Pegou na arte do Green Arrow (Arqueiro Verde) e veio com uma ideia nos Showcase 6, 7, 11 e 12 para um grupo de personagens exploradores do desconhecido: Challengers of the Unknown. Lançamento assegurado em revista própria em 58...

Em relação aos Challengers: Vão ler as estórias  e venham me dizer se aquilo é ou não o prototipo do Quarteto Fantástico, eh eh...

O Flash voltou no 8, 13 e 14, prometendo gibi próprio em 59...

E no 9 e no 10, o titio Weisenger entrou na jogada e ensaiou mais um gibi do Super: Superman's Girlfriend Lois Lane!!! Óbviamente lançamento em 58...

O Super que já judiava com o Olsen passou a judiar com a Lois todos os meses de forma absolutamente cruel e gratuita. Mas também mulher naquele tempo tinha seu estereotipo bem marcado. Subserviente e decorativa...

Finalmente, no fim de 58, a introdução de Adam Strange no 18, 19 e 20, que viajava entre o planeta Rann e a Terra por teleporte e iria ser uma espécie de Flash Gordon que assumiria lugar de destaque no Mystery in Space... Fição Cientifica no seu melhor. Arte estupenda do Murphy Anderson!!!

Encerrando com uma nota histórica: No número 247 do Adventure Comics, lá numa aventura do Superboy, estreou um grupo de super-heróis do futuro que com o tempo destronariam o Superboy de sua própria revista (e isso é coisa de monta, pessoal!), Deem as boas-vindas, chegou a...

 

LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS!!!!!

Esse grupo ainda iria dar muito que falar no futuro próximo e longínquo da DC...

Está na hora do bienio 59-60 pintar no pedaço...

Como foi referido acima, a revista de pesquisa de mercado Showcase estava dando cartas e continuava sendo a rampa de lançamento de novos gibis de super-herói ao mundo, enquanto esse mesmo mundo se preparava para uma revolução cultural só comparável ao Renascentismo do século 18...

Afinal os Beatles já estavam aquecendo os motores.

Vejamos então o panorama dos cancelamentos:

O pobre do Rex the Wonder Dog perdeu seu charme canino e foi cancelado no numero 46.

O policial District Attorney michou no número 67. Policial estava mesmo indo pra baixo que nem elevador com cabo partido...

O Hopalong Cassidy não mais achou sela mole e teve de se retirar no número 135.

O Charlie Chan perdeu a face e não foi mais visto depois do número 6.

Um lançamento de 59, Pat Boone, o anti-Elvis (espécie de Roberto Carlos em final de carreira) sucumbiu ao Rock'n'Roll em 60 e foi cancelado no número 5).

Os Disney-clone Peter Porkchops, Flippity and Flop e Three Mouseketeers, confirmando a queda na preferência do estimado público, também desapareceram de circulação.

Também o resistente A Date with Judy, finalmente entregou os pontos perante a mudança cultural em curso nos EUA.

Finalmente, provando que seriado é na TV mesmo, o Sgt Bilko e o Prvt  Doberman foram destacados pro Afeganistão e se perderam por lá mesmo...

Portanto, o que estava na moda nesses tempos de 59-60 sem ser o renascimento dos super-heróis?

Segunda Guerra Mundial, Romance e Histórias Insólitas, preferentemente de Ficção Cientifica !!!

E só se confirma essa tendência nos lançamentos não-super do bienio:

O Pat Boone (cantor romântico) e o The Many Loves of Dobie Gillis (mais um seriado de comédia da TV). 

Apenas dois lançamentos!!!!

A aposta estava sem duvida no relançamento dos supers através do Showcase e do titio Julius...

Assim em rápida sucessão bienal, tivemos os ensaios do Rip Hunter, Time Master, aventureiros no espaço-tempo, o Green Lantern, policia espacial, os Sea Devils, aventuras de uma equipe de mergulho e o Aquaman que já vinha brilhando no Adventure Comics com a arte excepcional da Ramona Fradon (sim é da Ramona Fradon, uma das pouquíssimas mulheres trabalhando em comics nesses tempos. Minha homenagem a essa pioneira. E além de tudo, sua arte é excelente).

Resultando direto desses ensaios:

The Flash retomando sua numeração original com o 105 em 1959. Excelente arte do Infantino e argumentos do Robert Kanigher...

Green Lantern dos geniais John Broome (argumento) e Gil Kane (arte) em 1960...

O Adam Strange, nosso Flash Gordon DC tomou de assalto o Mystery in Space em 1959 com o número 53, super-arte do Murphy Anderson...

E enquanto isso:

O que é melhor que uma revista de pesquisa de mercado?... Duas revistas de pesquisa de mercado, claro!!!

Cês lembram um tal The Brave and the Bold com aventuras de vikings, etc...?

Pois a partir do número 25 em 1959 passou a ser a revista gémea do Showcase  e começou apresentando o Suicide Squad (tipo seriado Missão Impossivel) e mais importante que isso no numero 28, um grupo de super-heróis compreendendo o Super, o Morcegão, a Maravilha, o Flash, o Lanterna, o Aquaman e o Caçador de Marte (que andava brilhando lá no Detective Comics) ou seja, a LIGA DA JUSTIÇA !!!!

Sim, a Justice League of America sucessora direta da Justice Society of America aparecia pela primeira vez aos olhos dos ávidos leitores. E tão ávidos foram os leitores que alguns meses depois ainda em 1960, a JLA ganhou sua revista própria !!! 

Mas nem tudo foi assim tão pacifico nessa reunião de heróis. Porque? Editores diferentes...

O Mort do Super e o Jack do Morcegão não tavam nem aí com a JLA. Isso era coisa do Julius esse inovador desalinhado, veja só o descaramento do cara, né?

Mas o titio Julius tinha a benção do alto (vulgo administração) e os dois tiveram de ceder, embora nos primeiros números o papel do Super e do Bat ser minimo, aparição no principio e no final. Depois da idéia ter pego fogo, desapareceram as reticências...

Em contraponto, todo mundo sabe que foi o sucesso maluco da JLA que originou um tal de Fantastic Four e por sua vez outro sucesso maluco de um tal de Stan Lee e de um tal de Jack Kirby... Não se pode ter tudo, eh eh...

Depois dessa bomba, restam as notas finais:

No lado do Super, estava na altura de cativar as moças e então no 252 do Action Comics desfrutem da origem da Supergirl!!! Belissima arte do Jim Mooney pessoal!!

Tanbém o primeiro Anual de 52 páginas com re-impressões do Super: Superman Annual #1.

No Our Army at War, personalizaram o gibi com o nome do seu personagem mais popular a partir do número 81: com arte estupenda do Joe Kubert abram alas pro Sgt. Rock!!!!

Tentando ainda colar no comboio da TV, um dos já poucos gibis de funny animals, Real Screen Comics passou para TV Screen Comics com o número 129. No entanto não consta que os funny animals da DC tivessem rodado pelos cinemas e muito menos pela TV. Marketing....

Finalmente, a curiosidade:

Peguem o Secret Hearts do número 58 em diante. observem a capa.

Agora peguem qualquer número do Spider-Man depois do Ditko ter saido do gibi em 1966, aí do 38 em diante... 

Comparem os jovens da capa do Hearts com o Peter Parker do enorme John Romita senior no Spider-Man...

Quais são as diferenças? Nem uma... Porque?...o Romita começou na DC fazendo arte para romance!!!!

É isso aí, pessoal!!! O titio Stan o foi aliciar com o Aranha lá na DC mesmo, ah ah ah ah...

Devo dizer que o titio Stan tem olho pro que é bom... como ele foi relacionar um artista de gibi de romance com o seu valiosissimo Homem-Aranha... Quem é bom, é bom mesmo, né?

Em Ivy City um cientista está prestes a descobrir as propriedades encolhedoras de um fragmento de anã branca...

Aqui estamos chegando ao biénio 61-62 e só dá mesmo Idade de Prata lá pela DC...

Vejamos os cancelamentos:

TV Screen Cartoons no 138: Se você é criança vai na Dell, que os animados bons estão todinhos por lá...

Western Comics no 85 e All-Star Western no 119:  Mocinho já tá velho e o pangaré entrou em greve. Já nem no cinema se faz filmes desses...

E para provar que a coisa era mesmo séria, até aquele anual da rena do pai Natal, o Rudolph, foi cancelada em 62, xiii, também não precisava bater assim nas crianças, né...

E na troca, cê ganhou direto do Showcase em 61...

Uma série de viagens no tempo cortesia do Rip Hunter, explorador do tempo...

Uma série de aventuras submarinas cortesia dos Sea Devils, exploradores das profundezas oceanicas...

E de lambuja um Anual de re-impressões do Morcegão e um Anual de Secret Origins com a re-impressão das histórias de origem de todos os Supers que pululam por aí em seus gibis preferidos. 

Minha única dúvida é...

Se são re-impressões como podem ser 'Secretas' ?

Mas o Showcase nessa altura era um saco sem fundo e em 62 o titio Julius tirou esse daí da cartola:

O super explorador do infinitamente pequeno: o Atom (Elektron no Brasil devido a problemas de copyright)!!!! Gil Kane ataca de novo e eu já capitulei...excelentes estórias e arte...

E o super rei dos mares em sua própria revista: Aquaman!!!

Infelizmente com o Aquaman a Ramona Fradon se aposentou depois das edições do Showcase. Mas no entanto ficamos muito bem servidos com o Nick Cardy. Belissima arte!!

Infelizmente também, o editor não era o titio Julius e os argumentos ficaram no nivel do Morcegão. O potencial do personagem só foi verdadeiramente usado nos anos 70... Pena... Mas, como já disse, belissima arte...

Ainda em 1962 o titio Mort tirou mais um Anual dessa vez da Lois Lane de sua cartola. Esses anuais estavam entrando no gosto popular. Muita página pelo custo e bom pros mais novos ou distraidos que apanhavam o comboio já em andamento. Bom método de atrair mais leitor pros gibis...

E atenção que nesse tempo ainda não havia problemas de continuidade. Cê não precisava de ler estória passada para entender a que estava lendo.

Não, a continuidade seria inventada (sem querer, pois como se viu mais tarde, deu origem a problemas editoriais impensáveis na época) pelo titio Stan que, apesar dos pesares conseguia manter à tona a editora Timely/Marvel à custa de gibis de estórias insólitas...

Voltaremos mais adiante ao tema da continuidade quando a DC, forçada pelo estilo de contar estória do titio Stan, introduz esse bicho feio na sua linha de comics no fim dos anos 60...

Nessa altura o titio Stan estava recebendo ordem direta de seu chefe e parente lá na Marvel para lançar um titulo de super-herói com base na JLA da DC.

Por essa altura também o titio Kirby saiu da DC novamente para só voltar quando as coisas azedaram entre o Stan e ele em 1970...

E assim, juntos criaram e lançaram o Fantastic Four no fim de 1962... e o resto é História, claro...

A DC nessa altura nem sonhava que esses dois caras praticamente sozinhos fariam desabar o império DC Comics nos anos 70...

Mas, ordem do dia era o regresso dos supers e a máquina continuava rodando do mesmo jeito sem problema: Heróis sempre amigões, sempre sorrindo no fim, salvando tudo e todos sem problema de maior, conseguindo sempre salvar o dia, sem subtexto psicológico, sem discussão de motivações, apenas valores absoluto, bem e mal, preto e branco, enfim tudo muito Comics Code...  

Estórias de crianças, certo?

Nesses tempos na DC, e por praticamente todo o lado, o artista fazia exatamente o que estava no guia do argumentista. Por mais estranho que pareça, o argumento era escrito como uma peça de teatro com sugestão de cenário, expressão, gesto, etc. O artista seguia aquilo à risca sob a supervisão do editor. Ênfase no guia portanto...

O titio Stan desalinhou completamente o processo e disse:

- Eu tenho mil gibis pra editar e estou sozinho aqui. Jack! Me faz uma estória do Quarteto contra o Dr. Destino e eu depois preencho os balões...

E o Super-gênio do Kirby fazia. Puxa! Como ele fazia...

Depois o titio Stan disse:

- Adolescente gosta de briga, chega de gibi parado. Nossos heróis vão quebrar a cabeça uns dos outros até se entenderem. Ponha o vilão fazendo eles suspeitarem uns dos outros...

E ainda:

- Seriado na TV continua de uma semana pra outra. Vamos fazer estórias com continuação para prender o público ao gibi...

E finalmente:

- Vamos fazer herói de todas as idades e condições sociais. Vamos fazer o leitor se identificar não com deuses limpinhos mas com pessoal comum como eles. Vamos tornar nossos gibis REAIS!!!  Vamos criar um Universo consistente pra nossos heróis!! Vamos fazer como em nossas vidas em que o passado influencia o futuro e não é esquecido. Vamos inventar a continuidade !!!!!!

Vamos fazer dos gibis, Seriado de Televisão !!!!!!!

E o resto é mesmo História...

Vamos deixar o titio Stan elaborando sua visão dos gibis e voltar na DC para uma última nota histórica:

No número 300 da Adventure Comics em 62, devido a demanda popular, uma série de acompanhamento à série principal do Superboy, Histórias do Mundo Bizarro, foi substituida por outra série: Tales of the Legion of Super-Heroes !!!!

Mais um grupo de Super-Heróis adolescentes (não-adultos por uma vez...) que haveria de fazer grandes coisas nos anais da DC. Arte passável do John Forte que iria ser substituido pelo genial Curt Swan dando origem aos gibis mais maravilhosos que conheci!

A identificação do leitor com a leitura é uma arma poderosissima... Meu enorme agradecimento ao Aizen e á Ebal pela descoberta e pelas memórias. Mesmo a preto e branco, valeu !!!

Estou escrevendo essas linhas ao som do 'A Hard Day´s Night' dos Beatles. Eles já eram reis de Inglaterra por essa altura e a grande revolução cultural dos anos 60 já estava em marcha...

No entanto do outro lado do Atlantico as coisas avançavam mais devagar, mas, John Kennedy já estava apontando pro objetivo Lua e Stan Lee já estava aprimorando suas novelas da Globo em forma de Gibi...

E na DC?

Pois continuava a renovação da linha editorial, com mais super, guerra e romance no caminho...

E, surpresa...

Apenas um cancelamento em 64 !!!

O do seriado de TV Dobie Gillis no 26.

É, nesse biênio só houve mesmo expansão da linha super, da linha guerra e da linha romance. As outras tendências editoriais depois de uma redução acentuada nos ultimos 4 anos pareciam adequadas ao mercado. 

E assim aí vêm os novos lançamentos. Vejam só:

Novos anuais da Lois Lane, Flash, Batman, Superman e Superboy. O sucesso dos anuais estava comprovado e asssim passaram a sair em 64 numa série própria intitulada '80-page Giants'...

Em 63, vieram mais dois gibis de romance direto da defunta editora Prize Comics: Young Love e Young Romance que mantiveram sua numeração anterior. 

Também em 63 chegaram os Metal Men, robos com inteligência humana, com arte do talentoso Ross Andru. 

Ainda em 63 no My Greatest Adventure, surgiu a Doom Patrol, heróis marginalizados pela sociedade que se reúnem sob a proteção do gênio paraplégico, Niles Caulder. Belissima arte de Bruno Premiani. Argumento genial de Arnold Drake e Bob Haney...

Quem eles fazem lembrar? Hmmm... Incompreensão das massas... lider de cadeira de rodas... hmmmm...

Correto pra quem respondeu os X-Men. Só tem um detalhe:  Doom Patrol surgiu em Junho, os X-Men em Setembro... Será que o Stan Lee lia o My Greatest Adventure? Não vou entrar por aí...

Mas lá que parece que sim, parece...

De qualquer modo o sucesso foi tanto que o My Greatest Adventure passou a Doom Patrol a partir do numero 86. Esse titulo foi uma grande inovação em termos de argumento por parte da DC. Aliás seus integrantes foram os primeiros heróis a morrer nos quadrinhos da DC mais para o fim da década. Um gibi diferente de onde menos se esperaria...

Em 64 tivemos direito ao relançamento do Hawkman dessa vez na encarnação de um policial de outro planeta que vem com sua mulher (um super casado, nada habitual!!!) estudar os métodos policiais terrestres. Arte super-magnifica do Murphy Anderson...

Por curiosidade, o outro único super-herói casado na DC era o Elongated Man (Homem-Elástico) criado pelo Infantino para apoio das estórias do Flash. Para quem estava habituado a choradeira do Super-Homem, dizendo que não podia se casar porque a esposa ficaria em perigo permanente, aí está a resposta do titio Julius. Porque não supers casados? E mais, o Elástico aí deixou de ter identidade secreta logo após sua criação... Pra quem dizia que a DC não inovava...

Continuando nos supers, o Martian Manhunter (Ajax), saiu do Detective Comics e tomou conta do House of Mystery com o número 143. Infelizmente, mudou de argumentista e de artista e... ficou pelo nivel do Aquaman e do Batman... foi mal...

No genero Guerra, o lançamento do gibi, Captain Storm da marinha Americana. Em teoria, bem bolado, já havia muito Exército e Aviação nos gibis, porque não investir agora na Marinha? Em teoria... Infelizmente não durou mais que três anos... Afundou...

E, finalmente, uma noticia triste:

Os gibis Batman e Detective Comics vão ser cancelados em 64. Já ninguém liga a um morcegão que combate robos e alienigenas, que já não é uma criatura da noite, que já tem até Bat-Cão, e cuja arte não evoluiu nada e parece ainda dos anos 50...

Aliás, acabei de receber o Detective 327 e o Batman 164, que devem ser as ultimas publicações das séries...

Hmmm... As capas parecem diferentes, iria jurar que conheço esse traço...

Deixa ver a primeira página...

Hein? Novo uniforme pro Batman? Nada de robôs? Nem um alienigena? Sem viagens ao passado? Arte espetacular do INFANTINO????

Deixa ler aqui uns balões....

COMO????

Batman saindo de noite e fazendo trabalho de detetive como nos velhos tempos? Participação especial do Homem-Elástico que fica de apoio no Detective Comics?

Mas o que  deu no Jack Schiff? Quem está editando esses gibis?...

É ELE !!! O TITIO JULIUS!!! O TITIO JULIUS TOMOU CONTA DO BATMAN !!!!!

E isso é História gente !!  Num ultimo ato de desespero chamaram o titio Julius para tentar salvar um personagem icônico caído em desgraça por incompetência editorial...

E o titio Julius não só salvou o Morcegão como ainda preparou as bases para o grande regresso ás origens dos anos 70. Se não fosse ele talvez já nem houvesse Batman e não só a DC como o mundo seriam bem diferentes...

Muito boas-vindas ao chamado 'New Look' do Batman em 64. Um renascer das cinzas. Mais uma que ficamos devendo a Julius Schwartz, pai da Idade de Prata...

Chegamos na era em que a explosão de criatividade cultural amplificada pelos sucos dos cogumelos mágicos, rompeu definitivamente com o passado e abriu novas fronteiras de percepção e comportamento. O Summer of Love e o psicodélico estão mesmo ao virar da esquina e os comics não iriam ficar imunes a tamanhas transformações globais.

Não esquecendo o seriado do Batman! Aí está um fenómeno curioso, aliás... Primeiramente é preciso aclarar que a série, emitida para o ar de 66 a 68, não tem nada a ver com os gibis que saiam na época.

O Julius não estava produzindo aquele tipo de estórias ou argumentos em 65/66. Aliás, aquele tipo de argumento seria muito mais apropriado pra show infantil do que seriado da TV. Até o ator que fazia de Coringa usava bigode mal encoberto pela maquiagem... 

E que dizer de um show onde o barulho dos socos, explosões, etc eram substituidos por suas onomatopéias tipo balão de quadrinhos na tela?...

Tenho pra mim, que o pessoal gringo estava já fumando tanta maconha que só as cores flashando no vídeo causavam o êxtase...

No entanto esse seriado ajudou muito á venda dos gibis do Morcegão e a uma grande popularidade do Batman. De súbito, o Morcegão passava a ser quase mais importante que o Superman. 

Felizmente que a única coisa que passou da série pro gibi foi a verbosidade do Robin que na série se fartava de colar o adjectivo 'Holy' a tudo quanto via e fazia piadinha boba de tudo o que o rodeava... Holy Batmania, Batman!!!!

E falando no Super...

A Legião passou pro Curt Swan, o Super já tinha 5 tipos de kryptonite diferentes, (a vermelha foi um achado, já que produzia efeitos não-permanentes que passavam em 24 horas...), já havia uma legião dos Super-Mascotes, cães e macacos viajavam da terra para Krypton em cápsulas espaciais a toda a hora, mais, o próprio planeta Krypton estava viajando pra Terra a julgar pelas quantidades de kryptonite que caiam nela todo dia..,

Isso mais os duendes da 5ª dimensão, as judiarias com o Olsen e com a Lois, as piscadelas de olho pros leitores no fim de uma estória...

E depois, em 66, um rapaz de 14!!!! anos passou a vender argumentos pro titio Mort, começou pela Legião, criando o Karate Kid, Ferro Lad, Princess Projectra e a partir daí a Legião foi só subir...

Passou pelo Super e criou o vilão Parasite, provando que os argumentistas do Super estavam ficando preguiçosos com a kryptonite... Havia outras maneiras de causar problemas ao semi-deus...

Olha... vão ler... vão ler que é uma das melhores fases do Super e da Legião...  tudo graças a esse enorme Jim Shooter...

Na Wonder Woman o Robert Kanigher estava conseguindo sacudir um pouco o marasmo explorando a história da mitologia da heroína e a conectando mais a suas raizes e á vida e cultura das Amazonas. Definitivamente uma melhoria...

E que mais?

Pois a partir de 65 os 80 page giants passaram a ser incorporados na numeração normal dos gibis...

O Rip Hunter esgotou o seu tempo e sua última viagem temporal foi no número 29...

E ainda o lançamento do Metamorpho the Element Man. Idéia bem interessante mas que não pegou muito talvez por falta de cuidado nos argumentos...

Em 66 a expansão da linha começou de novo de forma mais consistente:

Vindo da extinta Quality Comics, chegou o Plastic Man.

 

Uma primeira tentativa de cavalgar a onda cultural 'pop', dirigida pros adolescentes, Swing with Scooter.

E, finalmente, o último grande lançamento da Idade de Prata na DC: Teen Titans - Turma Titã.

A Turma Titã era a resposta ao público adolescente que estava ganhando influência social crescente, quatro heróis adolescentes, saindo da supervisão dos mentores adultos e combatendo o mal á sua maneira... emancipação é a palavra chave... e resultou em cheio. Robin, Wonder Girl, Aqualad, Speedy e Kid Flash que nas aventuras do Batman, Wonder Woman, Aquaman, Green Arrow e Flash pareciam fora do contexto, aqui fazem o time perfeito representativo da passagem da infância para a adolescência. Grande jogada do Bob Haney com arte excepcional do Nick Cardy... Beleza...

Em contrapartida, o insólito estava ficando fora de moda e a House of Secrets fechou suas portas no número 80.

Declararam também uma trégua no All-American Men of War que teve seu armisticio no número 117.

O Adam Strange foi o primeiro herói a capitular quando o Mystery in Space foi cancelado no 110.

If you're going to San Francisco, be sure to wear some flowers in your hair...

Pena que tinha apenas 5 anos quando toda esa revolução aconteceu...

Pois é pessoal, era da 'passagem á vida' , peace and love, era de Aquarius, turn on, tune in, drop out, contracultura, expansão da consciência, filosofia hippie ou festival de sex and drugs and rock'n'roll, seja lá o que realmente foi, deixou marcas indeléveis na cultura mundial dos anos 60.

E os comics são uma forma de cultura, certo?

Logo teria de haver uma influência mais ou menos direta desse tsunami cultural no mundo dos gibis...

Vamos lá então...

Com tudo isso, os adolescentes passaram a ser um mercado interessante. E quem já estava dando toda a bola pra eles?

O titio Stan Lee claro. Os comics dele nunca foram pra criança. Ele notou e muito bem que as crianças que leem comics crescem e se tornam adolescentes. Deixa a DC ficar com a criançada que nós vamos pegá-los assim que crescerem!

Podem dizer o que quiserem do titio Stan mas o homem era um gênio do Marketing e via muito mais à frente que toda a concorrência...

Pois de volta à DC, o pessoal começou a notar que o referido titio Stan estava começando a vender seus gibis como se estivessem vendendo banana a macaco...

Claro que nem que seja por inércia dos consumidores, ainda não estavam ameaçando as propriedades mais sólidas da DC, mas nesses tempos de mudança cultural rápida, melhor prevenir que remediar. 

Em 67 chegou a Batgirl no Detective 359, Lambreta em vez de Batmobile, malinha em vez de cinto de utilidades, dominando a arte feminina do Judô e filha do Comissário Gordon...

E também não podemos esquecer o xadrezinho nas capas de todas as revistas DC a partir de 66...

E como fazia o titio Stan, créditos da estória e arte no primeiro painel das estórias...

E assim vieram as primeiras aberturas, com a contratação do Jim Shooter que concebeu a primeira estória em continuação nos Adventure Comics 346-347 em 66, e que continuaria a surpreender, promovendo sacrificio de heróis, projetando uma Legião Adulta, fazendo alusão a drogas, retratando festas 'beat' e passos de dança modernos na anti-gravidade do século XXX, etc etc...

Como já havia dito, a melhor fase da Legião..

O outro alvo óbvio era a Teen Titans... O Bob Haney introduzia estória com banda rock, costureiro inglês maluco da filosofia 'mod' britânica, conversa adolescente tipica, todo o mundo dando pra cima da Wonder Girl, gases de efeito psicadélico...ufa!

E, obviamente, tudo isso com arte ma-ra-vi-lho-sa do Curt Swan  na Legião e do Nick Cardy nos Titãs... imperdível...

Em resumo, os heróis DC começavam a deixar cair suas mascaras unidimensionais e começavam a desenvolver personalidades de acordo com seres humanos reais... (obrigado titio Stan!!!)

E agora, para a Wonder Woman...

Um recém-chegado na DC, Denny O'Neil, pegou na Maravilha e a tornou, a partir do número 178, uma seguidora de artes marciais, deixando de ser amazona e ficando SEM QUALQUER PODER !!!! Históricamente, ninguém gostou da mudança e o próprio Denny confessa que exagerou a dose, mas que foi uma sacudida radical no mundo super-heróico, lá isso foi!!!...

Mas uma das maiores revoluções foi na arte a partir de 68. Novos valores chegando, novos arte-finalistas para artistas clássicos (ver o Super por exemplo).

Assim, o Infantino largou o Flash e deu pro Ross Andru que estava fazendo o Metal Men... A Wonder Woman estava com o Mike Sekowski da Liga da Justiça. Arte-final estupenda do Sid Greene por tudo quanto é lugar. Win Mortimer na Legião. E sobretudo o Bob Haney concebendo um conceito adulto como o Deadman no Strange Adventures, com arte fantástica do grande Neal Adams, que também aparece fazendo capas de gibi por todo o canto. Não podemos esquecer também o Bob Brown, Irv Novick e o Joe Giella, devolvendo o Morcego à noite de Gotham City... 

É muita coisa boa, pessoal, um prelúdio do que viria por aí em termos do conceito de arte e roteiro de quadrinhos. Quando as coisas ficarem mais sérias nos anos 70, vai ser o delirio, eh eh...

Finalmente,dando uma olhada geral nos gibis, temos em 67:

O lançamento da revista do Spectre em mais uma revisitação de um clássico dos 40. Super-arte do Murphy Anderson.

O lançamento de um gibi absolutamente relacionado com sua época de lançamento: a sátira Inferior Five.

Um seriado de TV: Bomba the jungle boy.

E um magazine: Teen Beat (do que tratava tá no nome, né?)

Do outro lado da balança, o barco do Capt. Storm afundou e ele foi aposentado no número 18.

Acabou o ar dos Sea Devils no número 35.

Em 68, muito mais agitação:

O fim anunciado dos desenhos para criança com o fim do Fox and the Crow que mudou para Stanley and the Monster no 109 e acabou no 112.

A Doom Patrol foi morta por vilões (caso inédito) e foi dada aos leitores a decisão de os ressuscitar ou não (ainda mais inédito). Tudo no número 121.

O team dos Blackhawks, apesar de uma passagem a super-heróis/agentes secretos, não conseguiram sobreviver ao cancelamento no numero 243.

O Martian Manhunter, que estava sendo uma quase duplicata do Super dentro da Liga da justiça, acaba sua passagem pela House of Mystery no número 173.

O Bob Hope contou sua última piada no 109.

O Metamorpho, traído por argumentos demasiado infantis se evapora no número 17.

O Plastic Man acabou de esticar no número 10.

O Inferior 5, apesar de engraçado, rebentou no 10.

O Bomba, mais uma vez provando que seriado na DC não cola, cedeu no 7.

O Teen Beat parou de tocar no 2.

Nos lançamentos de 68:

Captain Action, criado pelo Shooter, um super que ganhava seus poderes the artefatos cientificos e mágicos.

 

Bat Lash, anti-herói do velho oeste.

Secret Six, conceito de 'heróis á força', lançados em cenários do tipo 'Missão Impossível', por um chefe secreto que pode ser um deles. Diferente e interessante...Hawk and Dove, criados por Steve Ditko, recem saído do Homem-Aranha da Marvel e do Blue Beetle da Charlton Comics.

A volta do nosso velho amigo adolescente, Binky !!

Mais um ótimo conceito do Ditko: The Creeper !!

O bizarro (esse aí vão ter de ler) Angel and the Ape.

O efêmero Brother Power the Geek do Joe Simon, acerca dos perigos da vida hippie. Apenas dois números... Que estavam esperando?..

Aventuras Pré-Históricas com o Anthro.

Finalmente o DC Especial, antologia do trabalho de vários artistas. Começou com o Infantino. Beleza...

Ou seja, a DC recomeçava a expansão de suas linhas editoriais. dessa vez com diversificação da concepção e definição do super-herói. Uma via nova para tempos novos. 

Infelizmente, assim como o ideal hippie se foi extinguindo com os anos 60, também todos esses novos lançamentos duraram na generalidade apenas um ano, exceção para o Binky e o DC Especial.

Afinal, os hippies não eram conhecidos pela abundância das contas bancárias não é?

E a Idade de Prata vai chegando no fim com a década de 60.

Até agora quem estava fazendo os comics lá na DC na sua grande maioria ainda eram os profissionais que estiveram envolvidos lá no comecinho, lá na Idade do Ouro...

Só que com as abissais mudanças culturais ocorrendo no mundo e na gringolândia nessas décadas, especialmente o “cair na real” depois do paraíso hippie, com as contestações crescentes das minorias, a luta por direitos cívicos, a proliferação de armas e estupefacientes e já pra não falar da mudança de estilo e enfoque promovida com estrondoso sucesso pela Marvel, algo teria de mudar também na DC...

Daí uma entrada de sangue novo a nivel de artistas e roteiristas. Os antigos leitores e fãs que escreviam pra seção de cartas, agora estavam crescidinhos e querendo tomar conta de seus reverenciados supers...

Cada vez mais os comics tinham de ser socialmente relevantes, os personagens mais reais e complicados no nível psicológico, estórias maiores e continuadas de número para numero. Ramificações da história principal se estendendo por meses até sua resolução. Casamentos, nascimentos e mortes.

Bem-vindos à Idade de Bronze...

Mas pra já a época é de transição. Já temos o Denny O'Neil no Batman preparando a vinda do Ras Al Ghul e lançando o Morcegão em histórias do sobrenatural, o Jim Aparo no Aquaman com argumentos do Steve Skeates,

o começo da melhor arte do Super que já vi até hoje: Curt Swan e Murphy Anderson acompanhada de argumentos do Cary Bates...

Muita maravilha esperando pelos olhos do ávido leitor...

Uma decepção: O Shooter acabou o liceu foi pra universidade e teve de largar os roteiros da Legião. Os pobres Legionários passaram para estória de apoio no Action Comics por troca com a Supermoça e finalmente desapareceram da linha editorial... embora por pouco tempo, eh eh... Longa vida á Legião !!

No geral foi uma época de experimentação em que alguns supers cederam seu lugar a novas idéias e generos. Genero que começou a se impor por essa altura foi o do sobrenatural/terror com novos lançamentos.

Consequência dos experimentos foi uma extensa lista de lançamentos que tiveram uma dúzia de edições ou menos até desaparecerem no limbo dos cancelamentos...

Sim, sim, estou guardando o melhor pro fim:

Kirby está de volta !!

É isso aí!  O titio Kirby se amofinou com o titio Stan, não só pelo fato de querer créditos de roteirista igual que o titio Stan e querer controle criativo total sobre suas estórias mas também por questões legais com contratos de trabalho e, claro, montantes de salários. Tudo isso efeitos secundários da publicação dos créditos nos gibis da Marvel. E também devido ao fato de que as relações laborais estavam mudando no mundo inteiro. Se a Marvel queria o 'Rei' que o pagasse condignamente. Como não pagaram, Kirby voltou pra DC.

E voltou com liberdade criativa total e logo pro Super-Homem...

Mas ele não quis pegar no Super de raiz. Ele tinha suas próprias estórias pra contar. Assim, preferiu a abordagem obliqua e pegou sim no coadjuvante Jimmy Olsen e o tornou o ponto central de uma trama envolvente que daria origem ao chamado Kirby Fourth World e aos New Gods estrelando Orion e Darkseid membros integrantes de um novo panteão de Deuses. Claro que o Super ia aparecendo nas estórias mas a estrela era o Olsen.

Se cê perder essa saga, não sabe o que está perdendo. Portanto, não perca.  Leia o Olsen 133. Senão o Darkseid te leva pra Apokolips... eu avisei...

Como curiosidade: no primeiro Olsen, a cara do Super era desenhada pelo Al Plastino para não alienar os fiéis leitores da DC. Editores Idióticos e Iconoclastas...Bah !!!

Vamos ás movimentações do biénio:

Em 69, os Metal Men, acabaram no número 41 com o Dr.Magnus , seu inventor, completamente lelé da cuca tentando dominar o mundo...

No Batman 217, a continuidade é usada magistralmente pra fazer o Robin crescer e entrar na universidade fazendo o Batman largar sua Bat-Caverna, suas Bat-coisas e sua Bat-Mansão, acabando por se mudar pra cidade e combatendo o crime a partir de sua Bat-Garagem. A viragem no Morcegão começa aqui. Não percam!!!

O Atom (Elektron), que já estava dividindo seu gibi com o Hawkman desde 68, finalmente termina no 45.  A Marvel estava mesmo roubando cota de mercado à DC...

O Espectro se aposentou no número 10...

E na categoria dos descartáveis:

Captain Action, Bat Lash, Hawk and Dove, Secret 6, Creeper e Anthro duraram no máximo 7 edições e ...Puf!!

Foram lançados os caricaturais Date with Debbi, Debbi's Dates, Binky's Buddies e Windy and Willy.

O Windy and Willy durou 4 edições...  

Como o género Sobrenatural/Terror estava na moda novamente  House of Secrets foi relançado no número 83, o Phantom Strange ganhou uma nova série, foi criado a Witching Hour e o Beyond Unknown...

Em 70:

Lançamento do novo All-Star Western, com personagens antigos em novas aventuras...

Pra quem gosta de miniaturas de carangos,  está aí o Hot Wheels (TM) !!

Tentativa de ressucitar os fofos 'animais falantes' com o Three Mouseketeers versão 2...

Finalmente o Super DC Giants, revistas de re-impressões sempre desejáveis...

Cancelamentos dos descartáveis Debbi's Dates e Binky's Buddies. Easy come, easy go...

Os Challengers of the Unknown foram descontinuados no número 77. Irônico, Kirby chegando e uma de suas criações partindo...

O Showcase, perdendo sua razão de existir visto que as novas idéias eram agora lançadas como antigamente em novas edições, terminou no 93. O adeus a uma das traves mestras da Idade de Prata...

Finalmente, a extraordinária passagem do Arqueiro Verde pelas páginas do Lanterna Verde começa no número 76. Lembra dos gibis relevantes com temas melindrosos que abriram a Idade de Bronze? Tá aí ! É esse mesmo !

Série super-premiada com autoria de Denny O'Neil e Neal Adams, foi originada quando esses dois reformularam o Green Arrow, personagem que estava na gaveta desde uma longa e frutuosa passagem pelo More Fun Comics, o Adventure Comics e também o Justice League of America.

O Green Arrow foi criado obviamente como um derivado do Batman (basta ler algumas das estórias: carro-Flecha, Caverna-Flecha, Milionário com aliado adolescente, etc, etc, etc...). O Neal lhe deu um visual estonteante e o Denny o tornou a voz e consciência do povo americano. O homem que punha o dedo na ferida dos podres da nação.O antigo milionário convertido ás idéias radicais do anarquismo populista desencantado com a sociedade.

Depois da estréia do novo Arqueiro no Brave and the Bold 85, chamaram o Denny lá na DC e lhe disseram:

- Denny, o Lanterna verde está afundando como canoa furada em maremoto. Vamos cancelar em dois ou três edições. Precisamos de alguém que lhe dê um funeral condigno. Se aceitar tem carta branca...

Aí na 'carta branca' o Denny aceitou o encargo, chamou o Neal e o resto foi história... e prêmios...

A série é realmente fantástica e é de leitura obrigatória: Green Lantern, o policia trabalhando pro sistema, Green Arrow, o anarquista lutando pelos ideais do homem comum. Histórico...

 

 Texto e Pesquisa: Paulo Marques (Lisboa)

 Apoio técnico: Paulo Ricardo Abade Montenegro (Rio Grande do Sul)

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